Nos Cadernos do
Cárcere, Gramsci empreende uma análise crítica dos grupos subalternos,
examinando suas condições, os fatores que contribuem para sua subordinação,
seus modos de pensamento, cultura e seus níveis de organização política. Ele
tenta identificar os fatores que capacitam e os que impedem os grupos
subalternos na transformação de suas condições. No Caderno 3, §48, intitulado
“Passado e presente. Espontaneidade e direção consciente”, o autor argumenta
que as lutas políticas subalternas são muitas vezes caracterizadas pela espontaneidade,
um fator que contribui para aspectos ineficazes e, às vezes, regressivos da
atividade política subalterna.2 Por “espontaneidade”, Gramsci sugere a ação dos
grupos subalternos de acordo com um impulso inquieto ou “instinto” de revolta,
devido a crises ou condições inaceitáveis. Rebeliões e revoltas espontâneas dos
grupos subalternos indicam descontentamento social e desejo por uma mudança
sócio-política, mas tais movimentos raramente conseguem transformar as suas
próprias condições. Assim, para ser eficaz, argumenta que as lutas subalternas
devem ser fundadas na “direção consciente”, descrita como a atividade política
informada pela teoria revolucionária e enraizada em uma compreensão sistemática
das condições históricas que definem a subalternidade.
No entanto, para Gramsci, não existe espontaneidade ou
direção consciente puras na história. Ambas são representações de concepções
escolásticas e acadêmicas de uma “teoria abstrata”. Existem elementos e
gradações de espontaneidade e direção consciente em todo movimento. O autor faz
uma distinção entre grupos subalternos marginais e avançados, com níveis
variados de consciência, direção e organização. Grupos marginais e menos
avançados, argumenta, são inclinados a agir de acordo com uma conglomeração
incoerente de ideias tiradas do “senso comum” – como da experiência cotidiana,
da ciência popular, do folclore, das concepções tradicionais de mundo e da
religião. Tais movimentos, embora não constituídos de uma estratégia política
criticamente definida, e muitas vezes dispersos, representam a vontade dos
grupos subalternos em transformar suas condições. É através da necessidade
prática em prover “direção consciente” para suas atividades que os grupos
subalternos começam a transformar seu “senso comum” – para aquilo que Gramsci
chamou “bom senso” – com elementos de consciência história e crítica (C. 11,
§12).
Esse processo, Gramsci argumenta, é constitutivo dos
próprios grupos subalternos, enquanto tentam oferecer direção consciente para
sua atividade política espontânea, coordenados com os “intelectuais orgânicos”
e “filósofos democráticos” que emergem da luta.3 A formação das organizações
políticas subalternas autônomas representa uma fase intermediária de direção
consciente na qual os grupos subalternos pressionam de forma coletiva por
reivindicações e demandas políticas. Gramsci considera a formação do partido
revolucionário, capaz de unir e liderar grupos e organizações subalternas em
uma transformação hegemônica do Estado e da sociedade civil, como o mais alto
nível de desenvolvimento político subalterno. Desta forma, como Gramsci escreve
no Caderno 3, §48, a “unidade da
‘espontaneidade’ e ‘direção consciente’ ou ‘disciplina’ é precisamente a ação
política real das classes subalternas” (C.3, §48).
Em resposta à onda de levantes globais que emergiram em 2011
no Norte da África, Europa e América do Norte, tem havido um retorno às
questões de espontaneidade e organização política nos movimentos radicais –
desde a adoção da auto-organização espontânea sem liderança, horizontal, de
estruturas organizacionais rizomática (HARD; NEGRI, 2012; ROOS, 2013; TROTT,
2013) à necessidade de reconstrução do partido político revolucionário (Dean,
2012; ŽIŽEK, 2012). Em meio a discussões recentes, a ideia de Gramsci do partido
político unindo e liderando uma aliança de classes e grupos sociais na
transformação da sociedade é frequentemente vista como desatualizada, alertando
a necessidade por novas formas organizacionais (HARDT; NEGRI, 2012, p.69-69;
BADIOU, 2012; Day, 2005).
Além disso, um número de críticos acusaram Gramsci de
“vanguardismo” e “elitismo” por suas avaliações críticas da espontaneidade e do
senso comum (BEVERLEY, 2000, 2001; RABASA, 2010). Um julgamento geral é o de
que a crítica de Gramsci ao senso comum criaria uma hierarquia elitista entre
conhecimento e consciência, e a sua ênfase na educação da espontaneidade
através da direção consciente equivaleria a uma “manipulação” do povo (RABASA,
2010, p. 126- 127). Ao não considerar o contexto histórico dos escritos de
Gramsci, tais julgamentos negligenciam as limitações que ele identifica na
espontaneidade, e a valorização do senso comum sobre a direção consciente cria
um impasse que torna a transformação política subalterna quase impossível.
Por meio de um exame dos escritos de Gramsci sobre a
espontaneidade e a direção consciente em seus textos pré-carcerários e nos Cadernos, este capítulo examina seu
argumento de que é apenas pelo desenvolvimento de uma consciência crítica e
histórica combinada com uma organização política revolucionária que os grupos
subalternos serão capazes de superar sua subordinação. A posição de Gramsci,
como vou mostrar, é informada por uma análise crítica dos levantes políticos
espontâneos da história italiana e pelas reflexões sobre sua própria prática
política. Em contraste com as acusações de vanguardismo, como vou argumentar, a
teoria política de Gramsci era essencialmente fundada no empoderamento
democrático dos grupos subalternos. Dos seus escritos de jornalista, ativista e
líder partidário às suas reflexões nos Cadernos
do Cárcere, Gramsci continuamente retorna à importância da educação, da
cultura e da organização na formação do processo revolucionário (MAYO, 2008,
p.418-435). Em sua visão, é precisamente através da educação e organização que
os grupos subalternos se capacitarão, superarão os limites da espontaneidade, e
finalmente agirão enquanto vontade coletiva na transformação de suas condições.
Com este exame, considerarei a relevância contemporânea dos escritos de Gramsci
sobre espontaneidade e organização política para a discussão do Occupy Wall Street e a emergente mudança
de um ato de ocupação para uma organização permanente.
Lutas camponesas e operárias na Itália
Ao examinar as rebeliões espontâneas características da segunda
parte do século XIX na história italiana, Gramsci notou que as ações dos grupos
subalternos não romperam com a subordinação política ou transformaram as
condições de vida de forma permanente. No artigo “Trabalhadores e Camponeses”,
publicado em agosto de 1919, Gramsci nota como a natureza do desenvolvimento
desigual do capitalismo na Itália e a formação do Estado moderno criaram
condições nas quais os camponeses do Sul eram incapazes de definir uma
estratégia sistemática para suas lutas (GRAMSCI, 1977, p. 83-87).4 No período
que segue o Risorgimento (1861), a
agricultura sulista adere a uma estrutura econômica mais ou menos feudal, na
qual o Estado aparentemente moderno e liberal-democrático protegeu a grande
classe proprietária de terras. Devido à exclusão política e às condições
econômicas pobres, os camponeses emergiram em violentas revoltas. Engajaram-se
em greves, motins urbanos, invasões de terras e ocupações. Grupos de bandidos
assassinaram oficiais, prefeitos, vereadores e guardas nacionais do novo
Estado. Por conta da natureza individualista da depredação e das revoltas, o
camponês – nas palavras de Gramsci – era “incapaz de ver a si mesmo como um
membro da coletividade” e, por conta disso, não poderia “empreender uma
campanha sistemática e permanente destinada a alterar as relações econômicas e
políticas da sociedade”.
“Sob tais condições, a psicologia dos camponeses foi inescrutável: seus reais sentimentos permaneceram ocultos, enredados e confusos em um sistema de defesa contra a exploração que era meramente individualista, destituído de uma continuidade lógica, inspirada em grande medida pela astúcia e pelo servilismo fingido. A luta de classes foi confundida com banditismo – com ameaça, queima de florestas, abatimento do gado, rapto de mulheres e crianças, assaltos à prefeitura – era uma forma de terrorismo elementar, sem longo prazo ou consequências eficazes” (IBID., p. 83-84).
O governo italiano enviou mais de 100 mil tropas ao Sul para
reprimir violentamente as revoltas. Na década posterior ao Risorgimento (1861-1871), mais pessoas foram mortas na supressão de
levantes e depredações do que em todas as guerras de independência ocorridas
entre 1848 e 1861 (HEARDER, 1983, p. 240-241). A ascensão do movimento dos
trabalhadores no fim do século XIX e início do século XX também foi recebida
com uma repressão brutal. Na rebelião de 1893-1894 entre os Fasci Siciliani,
trabalhadores e camponeses se envolveram na ação política direta espontânea,
com ocupações de terra, manifestações e confrontos com a polícia, devido à
deterioração das condições econômicas. Em resposta à inquietação popular, o
primeiro ministro Francesco Crispi enviou 40 mil tropas para a ilha, instituiu
a lei marcial, dissolveu o Partido Socialista dos Trabalhadores Italianos,
ordenou a prisão de seu Comitê Central e purgou os cidadãos mais pobres das
listas de votação (MILLER, 1990, p. 15; KILLINGER, 2005).
De modo similar, em 1898 os trabalhadores de Milão se
manifestaram contra a ascensão dos preços e a escassez de alimentos, e depois
das tropas balearem e matarem manifestantes, a cidade irrompeu em protesto com
greves, marchas e ocupações de rua. O major de Milão respondeu com repressão
militar, através da qual 250 pessoas foram mortas e milhares presas. Ele
dissolveu a Câmera do Trabalho de Milão, bem como os grupos eleitorais
socialistas, e fechou a imprensa radical (LEES; LEES, 2008, p. 163). Em 1906,
quando Gramsci tinha quinze anos de idade, sua terra natal, a Sardenha, foi
varrida por uma convulsão social violenta. Após soldados abrirem fogo em uma
manifestação pela baixa dos preços de alimentos, vinte pessoas foram feridas e
duas mortas, os protestos se espalharam por toda ilha. Pessoas atacaram
fábricas de queijo, repartições fiscais, lojas próprias, pilharam, danificaram
maquinarias e apedrejaram lojistas inocentes. Soldados reprimiram brutalmente o
levante, dispostos a atirar em multidões e prender milhares de pessoas (FIORI,
1970, p. 44-50).
Da sua juventude na Sardenha até sua carreira como
jornalista e ativista político, e finalmente com o ascenso do fascismo, Gramsci
testemunhou a repressão brutal dos movimentos de camponeses e trabalhadores.
Seus escritos pré-carcerários documentam muitas das atividades políticas
diretas e espontâneas que ocorreram no movimento trabalhista italiano e as
respostas reacionárias que se seguiram. Como um ativista, rejeitou
consistentemente estratégias que priorizavam a tomada revolucionária de poder
ao cultivo de uma cultura revolucionária (BUTTIGIEG, 1995, p. 1-32). Gramsci
havia percebido que sem a formação de um movimento revolucionário de massa, os
grupos sociais dominantes utilizariam os militares e a violência para proteger
suas posições e prevenir que os grupos sociais subalternos obtivessem o poder
político. Em 1919, escreveu: “se uma minoria revolucionária obtiver sucesso na
tomada violenta de poder, essa minoria será derrubada no dia seguinte por um
contragolpe lançado pelas forças mercenárias do capitalismo, uma vez que a
maioria não envolvida permitiria que a nata das forças revolucionárias fosse
massacrada” (GRAMSCI, 1977, p. 127).5 Porque o Estado moderno se fundou sobre a
unidade da força e do consenso, Gramsci argumentava que os movimentos
revolucionários necessitavam de uma direção intelectual e moral antes mesmo da
conquista do poder político.
Apesar das críticas, Gramsci não repudiou os movimentos
espontâneos. Ele simplesmente enfatizou qual era seu significado, sua função e
suas limitações no processo político. Em sua visão, os levantes espontâneos dos
trabalhadores e camponeses por toda a história italiana demonstrava o desejo
revolucionário das massas em transformar suas condições. Como escreveu no
artigo “Unidade proletária”, publicado em fevereiro de 1920:
“Da perspectiva do lirismo revolucionário e da moralidade pequenoburguesa, estas manifestações de massa são vistas como sublimas ou grotescas, heroicas ou bárbaras; da perspectiva do marxismo, elas devem ser vistas em termos de necessidade histórica. Para os comunistas, elas têm valor real na medida em que revelam nas massas uma capacidade, inícios de uma nova vida, aspirações em criar novas instituições e uma nova unidade histórica para renovar a sociedade humana das suas raízes para cima” (IBID., p. 173).6
Em seus escritos, Gramsci insiste na ideia de que a
atividade política espontânea deve operar em coordenação com a direção
consciente, na qual as massas entendam sua atividade, seu sentido e as
consequências. O objetivo político central é, para os grupos subalternos, se
mover da atividade política rebelde para a atividade revolucionária na qual o
grupo possua a capacidade de não apenas se revoltar contra suas condições
inaceitáveis mas possuir o conhecimento e a capacidade de transforma-las.
L’Ordine Nuovo e os conselhos de fábrica
A fundação do jornal L’Ordine
Nuovo foi um movimento crítico no projeto de desenvolver uma cultura e
sociedade socialistas. Gramsci e seus camaradas acreditavam que o movimento
socialista era algo a ser construído politicamente e culturalmente, e eles viam
o jornal como um elemento deste processo. A primeira página da edição de
estreia, publicada em 1o de maio de 1919, continha o slogan do jornal:
“Instrui-vos porque teremos necessidade de toda vossa inteligência. Agitai-vos
porque teremos necessidade de todo vosso entusiasmo. Organizai-vos porque
teremos necessidade de toda vossa força.”7 O jornal era um instrumento no
desenvolvimento do movimento de conselhos de fábrica de Turim. Em 1919, Gramsci
escreveu artigos louvando o desenvolvimento dos conselhos de fábrica como as
organizações democráticas da cultura proletária que forneceriam a educação
política necessária para trabalhadores se tornarem equipados no exercício do
poder político. A organização de associações, clubes sociais e comunidades
camponesas de trabalhadores democráticos e autônomos era vista como a base da
democracia dos trabalhadores e “o esqueleto do Estado socialista” que poderia
substituir o Estado burguês (IBID., p. 65-66)8 Gramsci acreditava que o
espírito de democracia e colaboração fomentado no ambiente de trabalho forneceria
aos trabalhadores educação, experiência, disciplina e a estrutura permanente
necessária para a fundação de um Estado democrático de trabalhadores (GRAMSCI,
1977, p.67; MAYO, 2008, p.423). Em suas palavras: “É necessário convencer os
trabalhadores e camponeses que é do seu interesse se submeter a uma disciplina
permanente de cultura, desenvolver uma concepção de mundo e o complexo e
intricado sistema de relações humanas, econômicas e espirituais que formam a
vida social do globo.” (GRAMSCI, 1987, p. 126).9 A questão não era meramente que os
trabalhadores entendessem a si mesmos como assalariados, mas que entendessem a
si mesmos como os produtores “no processo de produção, em todos os níveis, da
oficina à nação e ao mundo” (ID., 1977, p. 109-113).10
O grupo de L’Ordine
Nuovo, em suas palavras, empreendeu o desenvolvimento dos conselhos de
fábrica e o estudo da “fábrica capitalista como uma forma necessária da classe
trabalhadora, como órgão político, como o ‘território nacional’ do
‘autogoverno’ dos trabalhadores”. O propósito era “desenvolver a ideia de
liberdade dos trabalhadores realizada na prática inicialmente no Conselho de
Fábrica e, em seguida, para além” (Ibid., p. 292- 297).11 Nesse sentido, os
conselhos de fábrica funcionaram como organizações políticas prefigurativas nas
quais se colocava os valores democráticos e socialistas em prática em meio ao
capitalismo como um processo de construção (prefigurando) a sociedade
socialista futura (BOGGS, 1977, p. 359-393). Como Gramsci escreveu posteriormente
em seu Caderno 3, §48, a unidade da
espontaneidade e da direção consciente no movimento de conselhos de fábrica
“deu às massas uma consciência ‘teórica’ de si mesmas como criadoras dos
valores históricos e institucionais, como fundadoras dos Estados.”
O Partido Socialista Italiano (PSI) não apoiou o movimento
de conselhos de fábrica, e estes não tinham a capacidade organizacional de
gerar um apoio público massivo. O próprio grupo Ordine nuovo foi acusado de ser
“espontaneísta” e “voluntarista” (C. 3, § 48). As críticas de Gramsci ao
partido por esta falta de apoio são instrutivas pois revelam sua concepção do
papel da liderança do partido. Em um artigo intitulado “Pela renovação do
Partido Socialista”, ele critica o PSI por sua falta de conexão e liderança com
tanto camponeses e trabalhadores, por não informar o público dos eventos
nacionais e internacionais que afetam o movimento trabalhista, por não definir
um programa revolucionário para um governo socialista, por não desenvolver uma
campanha educacional abrangente para elevar a consciência dos trabalhadores
italianos como produtores da economia global, e por não promover uma
“consciência revolucionária” entre os trabalhadores (ID., 1977, p. 190-196).12
Em uma seção crítica, Gramsci afirma que o partido está desconectado da
realidade da luta de classes, de sua posição nela, e está despreparado para
assumir o poder político. Em suas palavras, “o Partido Socialista deve
desenvolver uma ação abrangente destinada a colocar a totalidade da classe
trabalhadora em uma posição de ganhar a revolução e ganhá-la permanentemente”
(IBID., p. 191). Em um de seus momentos mais proféticos, argumentou que se o
partido fosse incapaz de capturar o poder político, haveria uma reação política
violenta das classes proprietárias para destruir o movimento trabalhista e sua
organização.
A concepção de liderança partidária de Gramsci é também
revelada em seus escritos do período das ocupações de fábricas em agosto e
setembro de 1920. Por toda Itália mais de 400 mil metalúrgicos ocuparam suas
fábricas devido à queda dos salários e às más condições de trabalho. Um
adicional de 100 mil trabalhadores de outros sindicatos apreenderam fábricas em
apoio aos metalúrgicos, e milhões de outros se envolveram indiretamente (CLARK,
1977, p. 157). As ocupações em Turim, que envolveram mais de 100 mil
trabalhadores, reviveram a atuação dos conselhos de fábrica, e trabalhadores em
diferentes regiões do país criaram conselhos de fábrica similares aos de Turim.
Através da organização de conselho, trabalhadores continuaram a administrar
fábricas, mantendo produção, distribuição, transporte e comercialização de
matérias-primas. Algumas fábricas também estabeleceram os “Guardas Vermelhos”
para defender as fábricas de possíveis assaltos.
As ocupações de fábrica validaram a importância política dos
conselhos de fábrica enquanto organizações democráticas, como Gramsci já havia
argumentado, e o fato dos trabalhadores serem capazes de retomar a produção e a
coordenação interfábricas reforçou o fato de que os trabalhadores eram capazes
de se auto-administrarem e auto-organizarem. Em uma série de artigos, Gramsci
analisou alguns dos fatores que confrontaram os trabalhadores ao longo da
ocupação. Em um artigo que apareceu nas edições do Piemonte e de Milão do Avanti!,
ele alertou os trabalhadores a não se iludirem pensando que a ocupação de
fábricas por si só resolveria a questão do poder político.
“a pura e simples ocupação das fábricas pela classe trabalhadora, embora indique a extensão do poder do proletariado, não produz dentro ou fora de si mesma qualquer posição nova, definitiva. O poder permanece nas mãos do capital; a força armada permanece propriedade do Estado burguês; a administração pública, a distribuição das necessidades básicas, as agências de eliminação de crédito, o aparelho comercial ainda intacto todos permanecem sob o controle da classe burguesa” (GRAMSCI, 1977, p. 327).13
Gramsci argumentou que a ocupação das fábricas marcaram um
evento histórico da classe trabalhadora em um movimento revolucionário, mas a
revolução não seria tão fácil de realizar como a ocupação de fábricas
indefesas.
Embora a ocupação de fábricas fosse a demonstração mais
significativa do movimento trabalhista no biennio rosso de 1919-1920, nem o
Partido Socialista nem o movimento dos trabalhadores estavam preparados para a
revolução. Ao fim de setembro, sindicatos negociaram o aumento dos salários
para os trabalhadores como uma resolução da disputa. O acordo representou uma
vitória temporária para os trabalhadores em termos econômicos, mas em termos
políticos sinalizou a derrota do movimento revolucionário (CAMMETT, 1967, p.
120). Os trabalhadores expressaram a decepção e desilusão com o PSI por
contornar o momento revolucionário que os próprios trabalhadores produziram. Gramsci
acusou o Partido de “verbalismo demagógico” por promover a revolução sem ter
capacidade de produzi-la, por gerar um problema político e propor a ele uma
“solução econômica” reformista. Em outras palavras, o Partido demonstrou a
derrota da direção consciente. Ele criticou o PSI por sua direção inadequada e
por sua incoerência política, afirmando que o Partido era revolucionário apenas
em palavras e não em ação:
“o Partido Socialista Italiano não é diferente do Partido Trabalhista Inglês. É revolucionário apenas em termos de afirmações gerais contidas em seu programa. É um conglomerado de partidos. Ele se move e não pode evitar se mover lentamente e tardiamente. Corre o risco permanente de se tornar uma presa fácil de aventureiros, carreiristas e homens ambiciosos sem capacidade política e seriedade” (GRAMSCI, 1977, p. 337). 14
“Ele muda e altera suas cores ao mesmo tempo que as massas mudam e alteram suas cores. De fato, esse partido Socialista, que se proclama guia e mestre das massas, não é nada mais do que um funcionário miserável anotando as operações que as massas espontaneamente realizam. Este pobre Partido Socialista, que se autoproclama a cabeça da classe trabalhadora, não é nada mais do que a retaguarda do exército proletário” (IBID., p.337-33
O PSI demonstrou sua inabilidade em dirigir. Falhou em
entender sua missão política de estabelecer um novo Estado, e falhou em liderar
o povo que clamava representar e do qual obtinha apoio. Nas palavras de
Gramsci, “deveria ser o partido de ‘todos os trabalhadores’ e em vez disso se
tornou o partido de ‘ninguém’” (IBID., p. 370).15 Até a derrota do movimento de
conselhos e ocupações de fábrica, o jovem Gramsci, como Carlos Nelson Coutinho
argumentou, subestimava o papel do partido político no processo revolucionário.
Gramsci começou a ver a necessidade da organização política além do espaço da
fábrica, “abrangendo todas instituições sociais, políticas e culturais que
propiciam a reprodução da vida social como um todo (incluindo a reprodução da
produção econômica).” (COUTINHO, 2012, p.18). Através desta experiência,
Gramsci declarou seu apoio à formação do partido comunista e considerou
necessário um novo tipo de partido, capaz de politicamente liderar as massas,
além dos estreitos interesses corporativistas da classe trabalhadora, no
processo de criação de um Estado socialista.
Gramsci consistentemente argumentou que a transformação
política não poderia ocorrer sem organização e direção consciente, mas para tal
direção ter sucesso, era necessário aos trabalhadores e camponeses se educarem
e desenvolverem uma consciência crítica de suas condições. Em novembro de 1923,
um ano desde que os fascistas tinham chegado ao poder, Gramsci enviou uma carta
para o jornal italiano Voce della Gioventù, o documento oficial da Federação
Comunista da Juventude. A carta era uma resposta a uma discussão no jornal
sobre a derrota do movimento revolucionário e que prenuncia alguns dos grandes
temas dos Cadernos do Cárcere.
Gramsci argumenta que uma das questões principais que contribuíram para a
derrota do movimento não foi somente o fracasso da direção, uma vez que a
existência de um “partido verdadeiramente revolucionário” poderia não ser o
suficiente. Ele argumenta que a causa da derrota pode ser algo mais profundo do
que apenas a falha da liderança. Tinha a ver com a falta de autoconsciência
crítica do próprio movimento. O movimento revolucionário italiano não entendeu
sua própria posição, não desenvolveu uma concepção de mundo coerente, não a
disseminou entre as massas ou fortaleceu a consciência de seus militantes. Em
outras palavras, faltou ao movimento revolucionário uma cultura própria e
compreensão crítica. Desta forma, de acordo com Gramsci, era necessário iniciar
do início e desenvolver a tal auto-compreensão crítica.
“Eis o que deve ser o “começo” da “classe trabalhadora”. É necessário proceder a uma autocrítica impiedosa de nossa fraqueza e começar a nos questionar o porque perdemos, quem somos, o que queremos, onde queremos ir. Mas há outra coisa que deve ser feito primeiro (sempre se acha que o começo tem outro... começo!): é necessário fixar os critérios, princípios, a base ideológica de nossa própria crítica” (GRAMSCI, 1978, p. 169).16
Depois de colocar a questão retórica “A classe trabalhadora
tem sua própria Ideologia?”, ele continua:
“Por que os partidos proletários italianos sempre foram fracos do ponto de vista revolucionário? Por que falharam quando deveriam ter passado das palavras à ação? Eles não conheciam a situação na qual deveriam agir, não conheciam o terreno no qual deveriam travar o combate. Basta pensar: em mais de trinta anos de vida, o Partido Socialista não produziu um único livro com estudos sobre a estrutura socioeconômica da Itália. Não possuem um único livro sobre os partidos políticos italianos, seus vínculos de classe, seus significados (...)
Não conhecemos a Itália. Pior ainda: nos falta os instrumentos adequados para conhecer a Itália como ela realmente é. Por isso, é quase impossível para nós fazer previsões, nos orientar, estabelecer linhas de ação que tenham alguma probabilidade de serem precisas. Não há nenhuma história da classe trabalhadora italiana. Não dá nenhuma história da classe camponesa. Qual foi a importância dos eventos de 1898 em Milão? Que lição fornecem? Qual foi a importância da greve de 1904 em Milão? Quantos trabalhadores sabem que então, pela primeira vez, a necessidade da ditadura do proletariado foi explicitamente afirmada?” (IBID., p. 170).
Em outras palavras, Gramsci está dizendo que falta à classe
trabalhadora e camponesa uma consciência histórica e crítica de sua própria
existência e das condições nas quais existem. Como ele continua em sua carta,
pergunta: “O que é para ser feito?” e em sua resposta postula a importância da
educação e organização com o objetivo de desenvolver uma estratégica para uma
luta futura. “Aqui está uma tarefa imediata para o grupo de amigos da Voce: se
encontrar, comprar livros, organizar aulas e discussões sobre o assunto, formar
um critério sólido para pesquisa e estudo, e criticar o passado – a fim de ser
mais forte no futuro e ganhar” (IBID., p.171). Ele essencialmente expressa a
conexão integral entre teoria e prática e a necessidade de compreender sua
própria condição para então transformá-la.
A ênfase na compreensão de sua história ecoa a importância
que Gramsci coloca no registro dos movimentos espontâneos e autônomos dos
grupos subalternos em suas notas sobre a subalternidade (C.3, §48; C.25, §§2 e
5). Ele enfatiza a importância do desenvolvimento de uma história integral dos
movimentos e iniciativas independentes dos grupos subalternos como uma forma de
entender os movimentos revolucionários, assim como um processo necessário para
o desenvolvimento da consciência crítica. Ele concebe o desenvolvimento da
consciência crítica dos grupos subalternos como o processo de tornar o senso
comum coerente, o que chama de “bom senso”. Gramsci esclarece essa ideia em sua
conhecida afirmação do Caderno 11,
§12 que concerne a formação de uma consciência crítica (o “conhece-te a ti
mesmo”), que é motivada pela necessidade prática de prover uma “direção
consciente para uma atividade”. Ele descreve esse processo como o de tornar os
elementos do senso comum “mais unitários e coerentes”, bem como prover “bom
senso” para a atividade. A ideia geral é que os grupos subalternos devem
desenvolver uma autoconsciência crítica de sua história sócio-política e
prática prévia de modo a fortalecer suas capacidades organizacionais e
intelectuais na luta por transformar a sociedade. Em outras palavras, grupos
subalternos devem aprender com sua história a fim de informar a eficácia de sua
práxis.
O objetivo de sua análise é definir os elementos que
possibilitam aos grupos subalternos conquistar uma vitória permanente em suas
lutas. Como escreve em seu Caderno
25, §2: “Grupos subalternos estão sempre sujeitos à atividade dos grupos
dominantes, mesmo quando se rebelam e insurgem: somente a vitória ‘permanente’
rompe, e não imediatamente, a subordinação”. A ideia de “vitória permanente”,
em um sentido crítico, envolve essencialmente a abolição da própria
subalternidade, o que requer a formulação de uma nova fundação ético-política
da sociedade que impeça a subordinação de um grupo por outro. A ideia
estratégica que Gramsci apresenta é a de que os grupos subalternos devem formular
e desenvolver uma nova “concepção de mundo”, um novo “senso comum” e cultura
que tenham capacidade de transformar a sociedade.
Esse processo, que Gramsci descreve como “fragmentado”,
“episódico” e “continuamente interrompido pela atividade dos grupos dominantes”
(C.25, §2) exige a formação de organizações políticas subalternas autônomas,
como conselhos, sindicatos, associações culturais e partidos, que sejam capazes
de confrontar as organizações e instituições dos grupos sociais dominantes.
Desenvolver a definição de uma nova fundação ético-política da sociedade requer
um nível concentrado de direção intelectual e moral (isto é, hegemonia), na
qual os grupos subalternos comecem a transformar a sociedade civil em um
movimento político de massa que seja capaz afinal de confrontar e transformar
efetivamente os aparatos coercivos do Estado (sociedade política) (BUTTIGIEG,
1995).
A despeito das reivindicações de vanguardismo e elitismo em
seu pensamento, os temas da educação e organização aparecem nos escritos pré-
carcerários e carcerários de Gramsci. Além disso, em claro contraste com estas
observações, as críticas de Gramsci ao senso comum e à espontaneidade ilustram
o foco radicalmente democrático e crítico de sua análise, que identifica as
limitações da concepção de política e formas de pensamento dos grupos
subalternos a fim de melhorar e fortalecer suas capacidades intelectuais e
políticas. Ele abraçou as implicações radicais dos movimentos espontâneos dos
grupos subalternos, mas também não tinha ilusões que queima de lojas,
depredações, orações por mudança, ou ocupações de fábrica transformariam
permanentemente as estruturas já existentes do poder político e social
organizado. Como estágios elementares, a mudança revolucionária requer
articular e disseminar uma concepção nova de filosofia e cultura que tenha uma
base crítica e forneça uma base nacional-popular que unifique o povo em uma
concepção de vida e de mundo comum. Central ao pensamento de Gramsci é o fato
de que a transformação revolucionária demanda a participação ativa das massas e
não simplesmente seu apoio acrítico. Isto constitui essencialmente a base para
a forma radical da democracia, na qual as massas desempenham o papel
predominante na direção de suas vidas, comunidades e sociedade política.
Occupy Wall Street e organização política
Retornar aos escritos de Gramsci sobre espontaneidade e
direção consciente fornece insights para repensar a forma e a força das lutas
subalternas hoje. Mesmo que a filosofia de organização do Occupy Wall Street (OWS) do “movimento sem liderança” confronte com
a ideia de Gramsci de partido político unindo e liderando uma aliança de
classes e grupos na transformação da sociedade, elementos do OWS assemelham um
movimento gramsciano da luta pela hegemonia (REHMANN, 2013, p. 1-18). O
desenvolvimento do OWS pode ser entendido em termos de espontaneidade e direção
consciente. O que se esperava ser uma ocupação da Wall Street na baixa
Manhattan em 17 de setembro de 2011 se desenvolveu espontaneamente em um movimento
político para além dos Estados Unidos, se difundindo para mais de 750 cidades
ao redor do mundo.
Em uma questão de semanas, o OWS emergiu na cena política e
se tornou um dos desenvolvimentos esquerdistas mais significativos dos Estados
Unidos em quarenta anos. Os sessenta dias de ocupação do OWS em Nova York podem
ser entendidos como bem sucedidos pois geraram o Movimento Occupy, destacaram a
questão da desigualdade e mudaram o discurso público, mas no sentido
gramsciano, o OWS pode ser entendido também como um fracasso, pelo menos no
curto prazo, pois não transformou as estruturas existentes da sociedade. Um
exame de suas forças e fraquezas pode fornecer insights sobre o que é
necessário ao OWS ou outro movimento similar para desenvolver um nível suficiente
de organização e liderança que transforme a sociedade. A emergência de grupos
pós-Occupy após o desmonte sistemático dos acampamentos pelo governo indica que
ativistas estão repensando a eficácia de suas práxis e questões de poder.
O OWS emerge dentro de um “ciclo de lutas” de protestos de
massa ao redor do mundo que irromperam no final de 2010 e 2011: a primavera
árabe no norte da África e no Oriente Médio, o movimento dos indignados na
Espanha, os protestos anti-austeridade na Europa e América do Sul, e a ocupação
da Assembleia de Wisconsin nos Estados Unidos no início de 2011 (HARDT; NEGRI,
2012). A organização do OWS surgiu a partir de diversos fatores. Seguindo o
espírito da Primavera Árabe e em resposta à injustiça socioeconômica nos
Estados Unidos, no início de 2011 a revista canadense anticonsumo e de
culture-jamming17, Adbusters, enviou um e-mail aos seus 90 mil seguidores
declarando que a “América necessita de sua própria Tahrir”, em referência à
ocupação da praça Tahir no Egito (SCHWARTZ, 2011).
Em julho, a Adbusters (2011) chamou as pessoas para “inundar
a baixa Manhattan, montar tendas, barricadas pacíficas e ocupar a Wall Street
por alguns meses” a começar pelo dia 17 de setembro. Em 2 de agosto, um grupo
de aproximadamente cinquenta apoiadores da Adbusters e anarquistas compareceram
a um comício organizado pelos New Yorkers Against Budget Cuts [Nova-iorquinos
Contra o Corte de Orçamento] (NYABC) para discutir e planejar a ocupação.
Insatisfeitos com a tomada de decisão do NYABC e com a ideia de formular
demandas predeterminadas, o grupo de anarquistas, incluindo o antropólogo e
ativista David Graeber (2011), rompeu com o comício e criou seu próprio
encontro, concordando em usar métodos organizativos “horizontais” de
assembleias gerais e processos de tomada de decisão consensuais (Holmes, 2012,
p. 151-161). O grupo se encontrou semanalmente durante agosto, desenvolvendo
finalmente uma New York City General Assembly18 (GA), que funcionou como o
órgão regulador do OWS. A GA escolheu originalmente a One Chase Manhattan
Plaza, perto da Wall Street, como o local de protesto, mas a polícia isolou-o
em 17 de setembro, levando os organizadores a escolher o Zuccotti Park, um
espaço público de propriedade privada a duas quadras de Wall Street, como o local
da ocupação. Muito embora os manifestantes tenham sido impedidos de ocupar e
fechar Wall Street, a ocupação de Zuccotti Park conservou o simbolismo de
ocupar Wall Street.
O foco de OWS na desigualdade e na corrupção de dinheiro na
política ressoou no público e teve um impacto significativo no discurso
político. Depois da crise financeira de 2007-2008, os americanos experimentaram
os efeitos da austeridade, da crise hipotecária, arrestos, desemprego, aumento
da dívida pessoal e estudantil, desigualdade massiva e desilusões com o
establishment político. Uma gama de intelectuais já havia examinado a
desigualdade e a política de classe do 1% versus 99% nos Estados Unidos, mas o
slogan da OWS, “Nós somos os 99%”, gerou uma atenção generalizada (JURKOWITZ, 2011).
Proporcionou igualmente uma intervenção no entendimento sobre a economia do
senso-comum estadunidense ao introduzir elementos de bom senso nos exames da
desigualdade de riqueza e poder (Rehmann, 2011, p. 9-11).
Isso abriu o discurso público para discussões em massa sobre
a desigualdade, a crise capitalista sistêmica e o poder de classe, ampliando a
discussão para além dos limites de explicações liberais de regulação fraca,
corrupção e ganância. No início de outubro de 2011, 54% do público tinha uma visão
favorável do OWS, comparado aos 27% dos de orientação libertária do Tea Party
(TIME MAGAZINE, 2011). No fim de outubro, os meios de comunicação aumentaram a
discussão sobre “desigualdade econômica” em cinco vezes, estendendo-se por 2013
(JURKOWITZA, 2011; BYERS, 2011). Porque o OWS pareceu ter surgido do nada,
aproveitando o descontentamento popular entre as massas, e gerando amplo apoio
público, ele apresentou características de um movimento espontâneo.
Embora o OWS tenha alterado o discurso público e tenha
expandido o terreno da política radical, ele afetou pouco no sentido de uma
mudança política substantiva. As condições que acionaram o protesto permanecem
em vigor: o capitalismo não foi derrubado, o 1% permanece no poder, a
desigualdade ainda existe, as massas continuam endividadas. Como Slavoj Žižek
(2011, p. 68). explicou em um local do Zuccotti Park, a métrica para o sucesso
deveria ser o impacto na “vida normal” das pessoas depois da ocupação. Em
termos de mudança da vida normal, o impacto do OWS foi mínimo. No entanto, como
Thomas Frank argumentou, uma gama de intelectuais de esquerda louvaram o OWS
como um sucesso por sua tática, organização horizontal e sua habilidade de
elevar a consciência, mas não necessariamente por seus eleitos políticos substantivos
(FRANK, 2012)
Um fator que contribuiu para a dificuldade de determinação
do sucesso e fracasso do OWS é a decisão explícita da GA por não formular
demandas. A falta de demandas demonstra o comprometimento do OWS com a política
prefigurativa, mas é representativo também das divisões internas entre seus
membros. Originalmente a Adbusters sugeriu que a ocupação de Wall Street
seguisse o modelo da Revolução Egípcia na elaboração de uma única demanda,
similar à demanda dos egípcios: “Mubarak deve sair”. Para determinar uma
demanda única, Adbusters sugeriu que os ocupantes aderissem à “mudança mundial
de tática revolucionária” derivada da “fusão de Tahir com as acampadas da
Espanha”:
“A beleza desta nova fórmula e o que torna esta novidade tática animadora é a sua simplicidade pragmática: falamos uns com os outros em várias reuniões físicas e assembleias virtuais... nós focamos no que a nossa demanda será, uma demanda que desperte a imaginação e, se alcançada, que nos impulsione em direção à democracia radical do futuro ... e então nós saímos e aproveitamos uma praça com significado simbólico singular e colocamos nossas bundas ali para que isso aconteça” (ADBUSTERS, 2011).
Como uma demanda possível, Adbusters sugeriu “que Barack
Obama ordene uma comissão presidencial encarregada de acabar com a influência
do dinheiro sobre os nossos representantes em Washington”. Muitos protestantes
rejeitaram a ideia de formular demandas, baseados no compromisso com a
democracia direta e o princípio prefigurativo de “construir a nova sociedade na
casca da velha”.19 Graeber, por sua vez, argumentou que “a emissão de demandas
significa reconhecer a legitimidade – ou ao menos o poder – daqueles para os
quais as demandas são feitas” (GRAEBER, 2011, p. 141). Nesse sentido, as
demandas são essencialmente reformistas e, para muitos anarquistas, “a ocupação
é a sua própria demanda”, o que é capturado no slogan “Ocupe Tudo, Demande
Nada”. Nesse sentido, como Joshua Clover explica: “A ocupação é a tática. A
falta de demanda é uma estratégia” (CLOVER, 2012, p. 100).
Alguns estudiosos argumentaram que a falta de demandas foi
uma fonte de força do movimento, abrindo um espaço inclusivo para as visões
reformistas e radicais, e expandindo o seu tamanho (ROWE; CARROLL, 2014, p.
149-171). Na verdade, o OWS foi feito por uma série de liberais, progressistas
e anarquistas. Alguns queriam destruir o capitalismo e outros queriam
reformá-lo (Bray, 2013, p. 4, 40). A organização horizontal da assembleia geral
permitiu que estas visões divergentes permanecessem juntas, mas sem uma vontade
coletiva definitiva. A criação de grupos de trabalho separados, como o Demands
[“Tarefas”], Queering OWS e Occupy SEC [Comissão de Valores e Câmbio do Occupy]
deu aos ativistas autonomia para seguir seus interesses e objetivos separados.
Em alguns aspectos, a falta de demandas coletivas e a organização dos grupos de
trabalho divergentes podem ser vistos como sinal de “fraqueza do núcleo
ideológico do movimento”, como Jodi Dean e Marco Deseriis argumentaram (DESERIIS;
DEAN, 2012). Sem demandas ou objetivos coletivos, a eficácia do OWS pode ser
interpretada de diversas maneiras. Por exemplo, para alguns a influência do
Occupy SEC na escrita dos regulamentos do Volker Rule incluindo a Dodd–Frank
Wall Street Reform e o Consumer Protection Act é uma vitória (JAFFE, 2014;
GOLDSTEIN, 2013), mas para outros, como Mark Bray, o objetivo nunca foi a
Volker Rule ou a reforma de Wall Street. O objetivo era “a destruição do
capitalismo e a construção de uma economia sem classes, economicamente
sustentável e democrática caracterizada pela ajuda mútua e solidariedade que
prioriza o cumprimento da necessidade humana” (BRAY, 2013, p. 39).
Dado que o OWS capturou a atenção pública, a solicitação de
demandas era uma questão de liderança na criação de um outro mundo. De diversas
formas, a falta de demandas representa a incoerência política do movimento em
apresentar uma concepção alternativa de mundo além da crítica do sistema
existente e a política prefigurativa do horizontalismo como o método de
organização da ocupação. O princípio de desenvolvimento de uma agenda, uma
visão e exigências fora do próprio processo reforçam os aspectos espontâneos do
OWS, dando mais ênfase aos processos democráticos, ainda que espontâneos, do
que à direção consciente. Após a análise de Gramsci sobre a direção consciente,
as lutas subalternas necessitam tanto de um molde de política prefigurativa –
de construção de novas formas de comunidade – como de uma política estratégica
de desenvolvimento de organizações formais que sejam capazes de alcançar a
transformação estrutural.
É neste sentido que Gramsci viu o partido de massa, composto
por uma aliança de classes e grupos, como a vontade coletiva da transformação
política. Embora o OWS seja um movimento explicitamente sem liderança e
partidos (GENERAL ASSEMBLY AT OCCUPY WALL STREET, 2012, p. 369), ele representa
a formação de um partido em forma embrionária, como Dean argumentou (DEAN,
2013, p. 58-59). Ele foi capaz de efetivamente comunicar uma crítica sustentada
da ordem existente através da linguagem, dos slogans e das práticas. Funcionou
como um intelectual coletivo na educação de organizadores e participantes no
processo de construção de consenso. Reivindicou representar 99% da população e
tentou liderar os Estados Unidos em uma nova direção política.
Uma das maiores lições que podem ser tiradas do OWS e
Occupy, seguindo uma análise gramsciana, é a prontidão do Estado em utilizar a
vigilância, o uso da força e da coerção para romper e reprimir um movimento político
explicitamente não-violento. Vários relatórios revelam diversos esforços
coordenados entre o Departamento de Segurança Interna, o FBI, a alta
oficialidade militar, a política local e a segurança privada para monitorar,
estrategicamente incapacitar e finalmente eliminar e desmontar os acampamentos
Occupy por todo o país em meados de novembro de 2011 (SCHMIDT; MOYNIHAN, 2012).
O projeto Protest and Assembly Rights [Direitos de Protesto e Reunião],
financiado pela Global Justice Clinic da NYU School of Law e a Walter Loiter
International Human Rights Clinic da Fordham Law School, conduziram um estudo
de oito meses sobre a resposta da cidade de Nova Iorque ao OWS (PROTEST AND
ASSEMBLY RIGHTS PROJECT, 2012).
O relatório concluiu que a resposta da cidade constituiu “um
mapeamento complexo de repressão do protesto”, que violou as leis
internacionais e estadunidenses, infringiu os direitos de expressão e reunião
dos cidadãos e obstruiu a liberdade de imprensa (IBID., p.71). A polícia se
valeu de força excessiva, desnecessária e agressiva contra manifestantes
pacíficos, assim como contra transeuntes, observadores legais e jornalistas,
causando lesões físicas leves e graves (IBID., p.72). A polícia também fez
numerosas apreensões arbitrárias de manifestantes, jornalistas e transeuntes.
Em um período de 10 meses, a polícia prendeu mais de 7 mil manifestantes do
Occupy ao redor do país, num momento no qual a perseguição do governo federal
aos crimes econômicos atingiu uma baixa de vinte anos (IBID., p. vii).
A resposta do Estado para o movimento Occupy não apenas
constitui uma “estratégica incapacitação do protesto” (GILLHAM; EDWARDS;
NOAKES, 2013, p. 81-102); ela produz um efeito inibidor do próprio protesto
pacífico, dissuadindo as pessoas de exercerem suas liberdades civis devido ao
medo da punição e violência legais. De fato, a resposta governamental demonstra
a ameaça potencial que o Occupy colocou ao status quo e revela as reais
alianças políticas do Estado. De uma perspectiva gramsciana, esta é uma das razões
do porquê os movimentos políticos subalternos necessitam da formação de
organizações tanto autônomas como formais agindo em espaços sócio-políticos
diferentes, de modo a simultaneamente apresentar uma política prefigurativa e a
contestação do poder do Estado.
Na sequência do desmanche das ocupações e acampamentos,
membros do movimento Occupy repensaram questões de poder organizacional nos
submovimentos da segunda geração e nos projetos relacionados ao Occupy que
seguiram táticas alternativas. Por exemplo, Strike Debt enfrenta o sistema de
débito predatório através da organização dos que buscam resistir às dívidas e
da compra de dívidas em taxas reduzidas para finalmente aboli-las. Em outubro
de 2012, o Occupy Sandy distribuiu alimento, roupa e outros suprimentos,
arrecadou mais de 1 milhão de dólares para atender às vítimas do furacão Sandy
e ajudou nos esforços de reconstrução em Nova Iorque e Nova Jersey. O Occupy
Homes, que é ativo em variados estados, auxilia casas, organiza campanhas de
pressão públicas e organiza bairros. Outros grupos focaram na educação e
treinamento políticos. Rockaway Wildfire, que foi organizado por membros do
Occupy Sandy e pelo OWS, lançou o Wildfire Project para treinar pessoas em
organização e prospecção, ação direta, falas em público e mídias sociais
(Jaffe, 2014). Em 2012, 99% Spring, que é composto de uma coalisão de sessenta
organizações, incluindo aquelas que trabalham com a classe trabalhadora e
comunidades negras, lançou uma campanha para treinar 100 mil pessoas em ação
direta não-violenta com o objetivo de facilitar uma onda de ações direcionadas
a corporações e funcionários públicos (RUSSELL; GOLDBERT, 2012).
Conclusões
O exame crítico do poder organizacional e da eficácia do OWS
após o desmanche dos acampamentos pelo Estado pode apresentar novas formas para
o Movimento Occupy desafiar o poder de uma forma sustentada. O OWS apresentou
uma crítica da sociedade e manteve a organização da ocupação de acordo com
princípios prefigurativos e horizontais, mas além de chamar a ocupação de tudo,
falhou ao apresentar uma visão de como a forma da nova sociedade iria
substituir a antiga. Movimentos prefigurativos e espontâneos são comumente
confinados ao seu próprio imediatismo, com intervenção mínima nas estruturas
mais amplas do poder ou se retiram completamente da política nas organizações
de auto-gestão (BOGGS, 1977). O compromisso do OWS com a política prefigurativa
era limitado pelo seu enraizamento prático e logístico dentro das estruturas
existentes da sociedade na qual estão baseadas a produção de serviços e bens e
a sua distribuição através das relações capitalistas (DESERIIS; DEAN, 2012).
Isto sugere que ocupação como tática de protesto é limitada aos seus efeitos
simbólicos e comunicativos se não é amarrada a uma luta pelas transformações
sociopolíticas que afetam a “vida normal” das pessoas. As organizações
pós-Occupy discutidas acima estão tentando precisamente isto, mesmo que
limitadas pelo seu alcance e capacidades.
Na análise de Gramsci, as lutas políticas subalternas
necessitam uma forma de direção consciente que conecte elementos espontâneos da
luta com objetivos políticos de longo-prazo que, para Gramsci, é em última
instância a transformação do Estado e o seu desaparecimento. Embora muitos
anarquistas e correntes marxistas autonomistas rejeitem a luta estratégica pela
conquista do poder estatal, na análise de Gramsci a eficácia das formações
prefigurativas, que anarquistas e autonomistas marxistas apoiam, serão
limitadas se não visarem o poder do Estado e seu uso da força. Muitos ativistas
que são ativos no movimento Occupy começaram a tratar a questão do poder e da
eficácia política. Por exemplo, ao refletir sobre o OWS e o trabalho de
caridade pós-Occupy, a organizadora do Strike Debt Astra Taylor nota: “Nós somos
muito bons em espetáculos, somos muito bons em caridade. Somos bons em ação
construtiva. A questão realmente construtiva é a questão do poder e como
alcançá-lo” (apud JAFFE, 2014).
Ecoando uma ideia gramsciana, Yota Marom (2012, p.422-423),
que foi ativa no OWS desde seu estágio de planejamento, escreve: “Em última
instância, o poder é a chave – reconhecê-lo e contestá-lo em nossos inimigos,
construí-lo para nós, tomá-lo daqueles que oprimem e exploram, usá-lo para
transformaa a nós mesmos e os valores e instituições de nossa sociedade. Vencer
importa”. De modo similar, Mary Clinton, uma organizadora trabalhista que
participou do planejamento do OWS, questiona os limites da natureza
anti-política das instituições prefigurativas e como elas podem facilitar uma
mudança política abrangente: “como desenvolver alternativas que não apenas
retire do sistema, mas que construa poder – como construir estas instituições
de modo a apoiar a alternativa?” (apud JAFFE, 2014).
Construir este tipo de poder, em termos gramscianos, é um
projeto essencialmente hegemônico que necessita da articulação de uma nova
concepção de mundo, bem como da formação de organizações políticas, associações
culturais e um partido político de massa que seja capaz de confrontar o poder
dos grupos sociais dominantes e instituições governantes. O que isto sugere é
uma síntese da política estratégica e prefigurativa que inclui a democratização
das instituições da sociedade civil bem como dos aparatos da sociedade política
(o Estado, as instituições jurídicas, etc.). Este exame e reorganização crítica
do OWS de abordar seus pontos fortes, fracos e formas de organização de modo a
tornar mais efetivo e finalmente vencer está certamente no espírito do
pensamento gramsciano, embora talvez não nomeado.
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Notas
1 Tradução de Camila Massaro de Góes.
2 A referência aos Cadernos
do Cárcere seguirão o modelo internacional das edições críticas”: o número
do Caderno (C.) seguido pelo número
do parágrafo (§) de acordo com a edição crítica de Valentino Gerratana
(GRAMSCI, 1975). Para a edição anglófona dos Cadernos, Gramsci (1992, 1996, 2007). Uma concordância da edição
crítica italiana com as antologias inglesas dos Cadernos do Cárcere está disponível no website da International
Gramsci Society: http://www.internationalgramscisociety.org/.
3 Sobre os conceitos de intelectual orgânico e filósofo
democrático, ver Fontana (1993, p. 27-34; 2005, p. 97-123) e Thomas (2009, p.
429-436).
4 “Trabalhadores e Camponeses”, artigo publicado por Antonio
Gramsci em 2 ago. 1919.
5 “Os revolucionários e as eleições”. Artigo publicado por
Antonio Gramsci em 15 nov. 1919.
6 “Unidade proletária”. Artigo publicado por Antonio Gramsci
em 28 fev. 1920.
7 Ver Gramsci (1966) para uma reprodução fac-símile de L’Ordine nuovo.
8 “Democracia dos trabalhadores”. Artigo publicado por
Antonio Gramsci em 21 jun. 1919.
9 “Crônica de L‘Ordine Nuovo”. Artigo publicado por Antonio
Gramsci em 12 Julho 1919.
10 “Sindicalismo e os Conselhos”. Artigo publicado por
Antonio Gramsci em 8 nov. 1919.
11 “Sobre o Programa de L’Ordine
Nuovo”. Artigo publicado por Antonio Gramsci em 14 ago. 1920.
12 “Para uma renovação do Partido Socialista”. Artigo
publicado por Antonio Gramsci em 8 mai. 1920.
13 “A ocupação”. Artigo publicado por Antonio Gramsci em 2
set. 1920.
14 “O partido comunista”. Artigo publicado por Antonio
Gramsci em 9 out. 1920.
15 “O Estado dos trabalhadores”. Artigo publicado por
Antonio Gramsci em 1 jan. 1921.
16 “O que fazer?” Artigo publicado por Antonio Gramsci em 1
nov. 1923
17 Culture jamming é um termo utilizado desde os anos 1980
para o ativismo anti-consumismo que rejeita frontalmente a ideia de que o
marketing – por comprar sua entrada nos espaços públicos – deve ser aceito
passivamente como um fluxo de informação unilateral (N. da T.).
18 “Assembleia Geral da Cidade de Nova Iorque”
19 David Graeber usa essa frase para definir o processo
(GRAEBER, 2012, p. 142).