
No final dos anos 40, quando começaram a ser publicados, os Cadernos
do cárcerede Gramsci já tinham se tornado um mito no interior da esquerda italiana:
jamais haviam sido lidos mas eram usados como referência para quase todas as
operações políticas que se faziam no sentido de atualizar teórica e partidariamente
o movimento comunista. Gramsci era apresentado como um antecipador da renovação
que se fazia cada vez mais indispensável, dirigente histórico e intelectual
refinado que, nas prisões fascistas, percebera os limites teóricos e práticos
da III Internacional, a complexificação e a potencialidade do capitalismo, bem
como o novo caráter não insurrecional
da revolução.
Havia algum arbítrio e certa instrumentalização naquela
operação, explicados em boa parte pela necessidade que tinha a direção comunista
(e particularmente Palmiro Togliatti, seu principal integrante) de fornecer uma
tradição às classes subalternas italianas e de ligálas ao nome de grandes
intelectuais antifascistas.