
Fabio Frosini
Tradução de Massimo Sciarretta
Tradução de Massimo Sciarretta
Nesse artigo enfocaremos a questão de como Gramsci, analisando
a realidade contemporânea a ele, pensa o nexo entre o parlamentarismo, a sua crise,
e o conflito social. Nessa reconstrução, as questões em pauta são, pelo menos,
três: a) os acontecimentos contemporâneos (da época dele), avaliados e
comentados por Gramsci; b) a relação recíproca entre as categorias de direito,
poder e conflito (o que põe um problema teórico concernente à reelaboração do
materialismo histórico nos Quaderni del carcere); c) as grandes tendências que
se desenham,
segundo Gramsci, no espaço da “crise orgânica” do sistema
hegemônico mundial, isto é, a forma como avança, ou poderia avançar, a que ele
define como “revolução passiva”.
Claramente, nesse pano de fundo, e em todos os três
momentos, Gramsci conta com dois pontos de referência privilegiados: a União
Soviética, como desafio aberto à hegemonia mundial da burguesia; e o fascismo
italiano, por ser a resposta mais direta – embora não necessariamente a mais clarividente
– à revolução de 1917. Como é compreensível, a razão que empurra Gramsci a
concentrar sua atenção, antes de mais nada, sobre a Itália e a União Soviética
é, acima de tudo, política2.
Também é verdade que as dinâmicas em devir nos dois países
levantam aos seus olhos problemas que são ainda de cunho teórico. O emaranhado
entre a dimensão política e a teórica é, pelo menos na URSS, evidente: a
maneira com a qualia se concretizando a ditadura do proletariado, a emergência
do “socialismo num país só” e as polêmicas contra a teoria da “revolução
permanente”, o primeiro plano quinquenal. Tudo isto acarretou durante os anos
1920 e no começo da década de trinta, discussões acirradas, na URSS como fora
dela, que diziam respeito à herança e ao significado do leninismo, isto é, o
teste concreto do marxismo, à relação entre internacionalismo proletário e interesses
e política exterior do primeiro Estado operário etc.3.
Entretanto, lendo os Quaderni, também para o fascismo
pode-se fazer um discurso semelhante, uma vez que a política do fascismo não é
considerada por Gramsci completamente reduzível à categoria de “reação”,
tampouco à bem mais complexa e avançada definição de “regime reacionário de massa”,
cunhada por Togliatti, em 1935, pelo próprio estímulo que lhe veio de Gramsci.
Para o autor dos Quaderni, o fascismo era, ao invés, um laboratório no qual não
apenas definia-se a nova estratégia da burguesía para sair da crise orgânica do
pós-guerra, mas em que (para responder ao desafio lançado pelo proletariado)
modificavam-se de forma decisiva as próprias categorias teóricas de cunho
“liberal” que haviam constituído o esqueleto do poder moderno.
Fabio Frosini es profesor investigador
de Historia da Filosofía en la Universidad de Urbino, Italia. Desde su
fundación, forma parte de la directiva del Centro Interuniversitario de
Investigación para la Investigación de los Estudios Gramscianos, con sede en
Bari, y también es integrante del equipo de trabajo que organiza la nueva
edición de los Cuadernos de la Cárcel. Es miembro del Comité Científico de la
Fundación Instituto Gramsci de Roma. Entre sus publicaciones sobre Gramsci se
destacan: Gramsci e la filosofia. Saggio sui «Quaderni del carcere». Roma:
Carocci, 2003; Da Gramsci a Marx. Ideologia, verità e politica. Roma:
DeriveApprodi, 2009; La religione dell’uomo moderno. Politica e verità nei
«Quaderni del carcere» di Antonio Gramsci. Roma: Carocci, 2010.
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