
Carlos Nelson Coutinho e Andréa de Paula Teixeira
(orgs.). Ler Gramsci, entender a realidade. Rio de Janeiro, Civilização
Brasileira, 2003. 293p.
> Não, meu coração não é maior que o mundo: Carlos
Drummond de Andrade
É preciso queimar todo o passado e reconstruir uma nova
vida. Ninguém deve se deixar dominar pela vida vivida até agora, ou, pelo
menos, só conservar o que foi construtivo e belo. É preciso sair do fosso e
lançar o sapo longe do coração (Gramsci, em carta à esposa, de 27 de junho
de 1932).
Resultado do segundo congresso da International Gramsci
Society, realizado no Rio de Janeiro em 2001, apenas uma semana depois dos
acontecimentos de 11 de setembro, este Ler Gramsci, entender a realidadecondensa,
nos seus vinte ensaios de variados sotaques, um propósito rigoroso: desafiar a
imensa contribuição teórica gramsciana confrontando-a com uma realidade que
parece ter intensificado vertiginosamente aspectos daquele mundo “grande e terrível,
e complicado” sobre o qual o revolucionário sardo se debruçara de corpo e alma.
Na verdade, entre “ler Gramsci” e “entender a realidade”, vai uma distância,
tem lugar um esforço de mediação de contextos particulares em alguma medida
semelhante ao mesmo esforço que Gramsci empreendera ao tentar achar as razões
da derrota da revolução socialista no Ocidente, de dentro da escuridão do
cárcere fascista.
É certo que cada época articula, a seu modo, os adjetivos do
mundo. Sem dúvida que no decorrer do século XX, talvez o mundo tenha sido mais
intensamente “terrível”, ou mesmo “maior”, do que é hoje. Somos freqüentemente
levados a acreditar que as distâncias estão se comprimindo na concretude de uma
humanidade tangível, comunicante. De outro lado, a expansão da cultura
democrática, apontada por alguns dos ensaístas deste livro como movimento
estrutural sólido e distinguível na bagunça da totalidade social contemporânea,
indica algum recuo do “terrível”. Difícil é sustentar que o mundo seja hoje
menos “complicado” do que ontem. Convém lembrar que os fatores de
complexificação que tanto ocuparam Gramsci na tentativa de determinar as
características das sociedades de tipo “ocidental” (e com isso pensar uma
filosofia da práxis revolucionária adequada à “complicação” das sociedades mais
avançadas) não cessaram de atuar por todo o século passado, produzindo uma
correlação de forças esfacelada por múltiplas experiências históricas demasiado
singulares para se deixarem reduzir, sem resistência, a um modelo comum. O mundo
certamente é hoje um lugar ainda mais complicado do que na primeira metade do
século XX. Não espanta, então, que um filósofo do “complicado” por excelência,
reconhecedor da primazia do objeto no cálculo da prática (o mundo, afinal, é
maior que o coração), seja chamado novamente a “entender a realidade”.
Igualmente esperável, nesse multilivro, a recorrência
bastante marcada de alguns temas centrais, aqueles surgidos exatamente desse
exame da realidade complicada, empreendido ao longo principalmente dos Cadernos
do Cárcere. Conceitos fortes da equação política gramsciana como “Estado”,
“sociedade civil” e “hegemonia”; bem como seus pares dialéticos,
“força-consenso”, “dominação-direção”, são esquadrinhados e testados a todo o
tempo na sua capacidade de iluminar os diversos contextos atuais. É como se
essas próprias centralidades temáticas cuidassem, com sua força gravitacional,
de “organizar”, na memória do leitor, os vinte ensaios dispostos aqui em ordem
alfabética segundo o sobrenome dos autores. Dessa maneira, é possível que a
forma do livro denuncie melhor a pluralidade das leituras em torno de Gramsci,
o que por sua vez depõe pela multiplicidade de focos com que a sua atenção
dialética procurou ler nas entrelinhas do mundo.
Mas, se por um lado as leituras aqui coligidas celebram a
pluralidade, por outro elas implicam também alguma irregularidade.
Evidentemente, cada leitor trará para essa coleção seus critérios e com eles
elegerá seus textos preferidos, que certamente não serão todos. Nem por isso,
no entanto, torna-se desaconselhável tentar buscar e discutir entre as
diferentes abordagens os marcos de uma avaliação crítica.
Nesse sentido, o texto de Dante Germino, professor da
Universidade de Amsterdã tragicamente falecido em maio de 2002, a quem o volume
é dedicado, pode ocupar uma posição central. O ensaio chama-se “Interpretando
Gramsci”, e, partindo da premissa um pouco óbvia de que existem tantas
interpretações de Gramsci quanto forem os intérpretes, pergunta: existiria um
Gramsci gramsciano? No contexto de uma espécie de “luta por Gramsci”, Germino
parece inverter o título da coletânea: trata-se, antes, de entender Gramsci, e
aí ler a realidade. O critério que Germino oferece para distinguir a verdadeira
“interpretação” da mera “expropriação” do texto gramsciano seduz pela sua
ambição intransigente. Trata-se de aplicar a Gramsci o método que ele mesmo
empregou para “interpretar” suas principais influências (Marx e Croce entre
elas): “primeiro, uma análise minuciosa de todos os textos do autor,
e não apenas os considerados ‘principais’; e, segundo, uma investigação da vida
e da época do autor”.
Para Germino, no quadro de uma “investigação da vida” do
autor, adquire especial relevo a leitura das cartas que Gramsci escreveu antes
e depois de preso, à guisa de biografia intelectual. Nessa linha, tampouco a
sua experiência como gobbo, ou “corcunda”, poderia ser desprezada. Ao
contrário, esses e outros dados da sua vida (a origem sarda, pobre, a prisão do
pai e a precariedade econômica da família) seriam indispensáveis para definir o
modo pelo qual Gramsci “lia a realidade”, na opinião de Germino: “das margens
para o centro”.
Assim como Gramsci procurava compreender Marx não a partir
de “afirmações casuais e aforismos isolados”, mas captando “o ritmo do pensamento
em desenvolvimento”, Germino entende que devemos compreender Gramsci através de
suas origens, de sua obra como processo e construção orgânica (Cadernos e
escritos pré-carcerários) e das condições em que ela se desenvolveu. Para ele,
o Leitmotiv do pensamento gramsciano deve ser buscado “na sua paixão
por superar a marginalização”. O ressentimento de Gramsci, cuja formação deve
tanto à prática, de ter sido afastado da realidade tangível constituiria também
um dado importante.
A menção a este fato, feita de passagem, nos leva a pensar
num curioso paradoxo: quiçá não foi justamente por ter sido arrancado da vida
prática que Gramsci pôde elevar a filosofia da práxis à mais elaborada
dignidade teórica? Na intenção de impedir que esse cérebro funcionasse, o fascismo
pode ter criado as condições para a mobilização máxima de suas energias. Numa
carta de 19 de novembro de 1928, à esposa, Gramsci revela o seu medo de ser
esmagado pela rotina do cárcere, mas reage: “Certamente eu resistirei”. A
escrita surge então como trincheira da lucidez. Seguindo o método de Germino,
devemos interpretar os Cadernos inclusive à luz desse seu
desenvolvimento improvável. Certamente a estrutura que resulta daí acaba sendo
mais propícia, por fragmentada, àquilo que Germino chama de “expropriação”:
“Expropriar Gramsci significa arrancar determinadas idéias ou passagens do
contexto, para dar apoio ao projeto pessoal do expropriador”. E acrescenta que,
para ele, todas as supostas interpretações que apresentam Gramsci como um
“revisionista”, por exemplo, seriam típicas “expropriações”. “Entre Gramsci e
Bernstein existe um abismo” - ressalta.
O critério de Germino é generoso porque recoloca a obra
considerada como um todo vivo, e seu contexto como parte da sua vida, no centro
do processo interpretativo, que passa a exigir maior fôlego (o método fica um
pouco parecido com a empresa que o Pierre Ménard, personagem de Borges,
descartou por considerar muito fácil: tornar-se o próprio Miguel de Cervantes
como estratégia para escrever o Quixote). Seguramente alguns dos textos
desta coletânea parecem ater-se mais que outros a este exercício de
contextualização dialética que presta homenagem à própria obra. Nesse sentido,
os três primeiros textos do livro, de Giorgio Baratta, Francisco Buey e Joseph
Buttigieg, são genuínos casos de interpretação.
Baratta, no ensaio “Antonio Gramsci entre a Itália e o
Brasil”, explicita como a condição a um só tempo européia e italiana de Gramsci
influi no desenvolvimento de seu “método comparativo”, cujo código-fonte é o
estudo da gramática histórica. Para Baratta, o que articula em Gramsci o
interesse pela questão nacional (as “coordenadas territoriais da problemática
político-social”) e a aguda consciência de que sempre a “história” é “história
mundial”, é o fato de ele ser “um pensador organicamente internacionalista”, ou
seja, capaz de abrigar tanto a questão da unidade italiana quanto a da união
européia sob o signo da “unificação do gênero humano”, com sua marca
filológica. Os Cadernos seriam assim a tematização do contraponto
entre dois temas, a “crise” italiana e a marcha do “mundo grande e terrível, e
complicado”. Um Gramsci cingido entre o impulso cosmopolita e a origem
provinciana, inclinando-se para o primeiro sem jamais se perder da segunda,
resumiria assim a própria condição histórica da sociedade que ele buscava
interpretar.
Baratta procura demonstrar como o Brasil de hoje consistiria
um “caso” de articulação entre questão nacional e dimensão internacional a ser
visto sob a ótica gramsciana. E para tanto recorta duas contribuições centrais
da nossa tradição de “pensamento nacional”: Sérgio Buarque de Holanda e Carlos
Nelson Coutinho comparecem como pensadores do desenvolvimento da “nação e do
Estado-nação”. Em Buarque a temática da implantação da cultura européia em
território tropical (o contraponto entre a “sociabilidade pública” e a tradição
de nossa “cordialidade privada”) e, em Coutinho, a situação do nosso DNA
colonial no contexto da acumulação primitiva de capital fornecem os pontos de
partida para a reflexão acerca do “justo equilíbrio entre peculiaridades
nacionais e horizonte internacional”, em que, entre outros, os traços da
“cultura popular” e da “questão americana” evidenciariam convergências mais
pontuais com Gramsci.
A Buey também interessa a “dialética histórica da identidade
e diferença entre culturas” (“Gramsci no mundo de hoje”). Mas sua interpretação
cumpre outro trajeto. Partindo da reflexão nos Cadernos sobre língua,
linguagens e política, Buey salienta o esforço de Gramsci para fabricar uma
linguagem política nova (descartando qualquer formalismo, porque sabia que a
política é feita de metáforas). Essa vontade de linguagem estaria em
consonância com a concepção de Gramsci sobre o trabalho intelectual (e seu
papel na construção de hegemonias, que, no fundo, não deixam de ser grandes
acordos de sentido) e com a necessidade constante de travar o diálogo entre
culturas e entre gerações - esta sendo, para Buey, a principal “tarefa
pré-política” de uma nova esquerda nesse início de século. Buey sustenta então
que a “forma-Cadernos”, através da qual Gramsci pensou, seria precisamente a
forma de um diálogo, um diálogo com a tradição, com seus contemporâneos, e
inclusive um “diálogo consigo mesmo, mas sem ensimesmamento”. Buey acrescenta à
dialética nacional/internacional o ingrediente da tradutibilidade das
linguagens, com seus pressupostos assentes numa perspectiva mundialista e na
idéia de progresso, que Gramsci compartilha com a melhor tradição iluminista.
A idéia de que a forma dialógica é fundamental na estrutura
dos Cadernos é compartilhada por Buttigieg, no seu “Educação e
hegemonia”. Ele nota que precisamente a noção tão importante de hegemonia não
chega a se pôr como um “tema” pontualmente enfrentado por Gramsci. É antes uma
“construção orgânica de sentido” que atravessa o próprio “ritmo do pensamento
em desenvolvimento”, forjando-se no diálogo e no confronto crítico das idéias.
Sua espessura conceitual, entretanto, deixa revelar um pouco do fundamento
ético que a textura aberta do pensamento gramsciano transporta.
Buttigieg, finíssimo intérprete, lê as cartas e alude ao
périplo doloroso do jovem Gramsci através do sistema de ensino de sua época até
sua passagem pela universidade, uma superação dos mais variados obstáculos,
sempre “da margem para o centro”. Atenta também para a sua atividade de
jornalista político, marcada pela “convicção profunda de que a tarefa mais
urgente do movimento socialista tinha natureza cultural e educacional”.
Ressalta ainda a forte presença de Vico na certeza de Gramsci de que a
emancipação passa pelo conhecimento, especialmente pelo conhecimento “dos
outros”, de sua história e cultura, e pela forja de uma “consciência superior”.
É nesse cruzamento que Buttigieg situa a gestação do conceito de hegemonia e
sua presença orgânica nos Cadernos, que seriam “o registro de uma extensa
investigação destinada a ‘conhecer os outros’”.
O diálogo da “forma-Cadernos” estaria atravessado desse
fundamento ético e epistemológico que informa a noção de hegemonia como “uma
relação pedagógica, que se verifica não apenas no interior de uma nação, entre
as diversas forças que a compõem, mas em todo o campo internacional e mundial”.
A hegemonia, nessa sua essência pedagógica, atuaria inclusive no interior das
próprias classes dirigentes, acentuando-lhes a capacidade de ver além de seus
interesses corporativos (talvez ajudando a explicar as “reservas políticas” das
classes dominantes nas sociedades avançadas). O Iluminismo, como expressão da
hegemonia revolucionária na Revolução Francesa, teria funcionado como “uma
Internacional espiritual burguesa” por si só revolucionária. Buttigieg nos vai
conduzindo, por diversas mediações, a essa idéia de hegemonia como relação
educacional, em sentido amplo. Sua preocupação é mostrar que as questões centrais
da educação, como a diferença na instrução recebida pelas classes privilegiadas
e setores desfavorecidos, são propriamente as questões da hegemonia.
Aos intérpretes cuidadosos, entretanto, se sucedem ilações
não muito escrupulosas no que concerne à organicidade da própria obra de
Gramsci. O Gramsci acolhido pela “teoria dos direitos humanos”, no artigo dos
australianos Alastair Davidson e Kathleen Weekley, é declaradamente o Gramsci
parcial que enxergava a importância do senso comum nacional-popular. Refratária
ao momento institucional dos direitos (“Sua insuficiência [do governo das leis]
residia no fato de que tornava os tribunais o lugar da palavra final”), bem
como ao movimento dialético que insiste na importância dos Estados nacionais
num contexto de internacionalização, a “teoria dos direitos humanos” reivindica
seu Gramsci democrático e pluralista, supondo a existência, em algum lugar, de
um Gramsci totalitário.
Nesse passo, vemos que as “expropriações” são essencialmente
leituras pouco dialéticas. Talvez a pressa em subsumir aspectos da realidade
palpitante às sempre sedutoras categorias gramscianas atropele, de vez em
quando, as mediações necessárias, precisamente aquelas que já estão indicadas
no seu método. O inglês Jeremy Lester (“Alinhando a inteligência com a
vontade”), por exemplo, propõe um acordo entre o pessimismo da inteligência e o
otimismo da vontade que supere a tendencial primazia do primeiro, promovendo
seu encontro num híbrido “terreno mútuo do otimismo”. Sua síntese
(nada menos do que um “otimismo da inteligência”) o leva a comentar o nosso MST
no contexto das “lutas contra-hegemônicas” de hoje. Lester salienta a
universalidade e organicidade de um movimento capaz de articular-se para além
do interesse de classe, sob direção espiritual de “um misticismo não
metafísico, mas materialista”, o que teria, a seu juízo, fascinado Gramsci (o
recurso a um Gramsci hipotético é bastante caro aos expropriadores, de um modo
geral). Provavelmente aqui a expropriação se dá não só com respeito a Gramsci,
mas também com relação a uma realidade que, sendo muito mais rica, aparece fora
de sua problemática histórica, reduzida a fantoche argumentativo.
Um dialético do tamanho de Guido Liguori, muito
diferentemente, nos oferece um “estudo de caso” profundamente respeitador do
desenvolvimento das categorias gramscianas (“Estado e sociedade civil: entender
Gramsci para entender a realidade”). Seu artigo se ocupa da centralidade do
conceito de “Estado ampliado” nos Cadernos, em direção à compreensão do
protagonismo do Estado no século XX, e no contexto conceitual de uma luta
teórica contra a separação orgânica (adialética) entre “sociedade civil” e
“Estado”. Para Liguori, essa centralidade não põe o Estado como sujeito da
história, mas faz lembrar que os verdadeiros sujeitos, as classes sociais,
tornam-se hegemônicos a partir justamente da sua “capacidade de tornar-se
Estado”.
Mas o “estudo de caso” empreendido por Liguori versa sobre o
atualíssimo “fenômeno Berlusconi”. Liguori procura ver de que modo as categorias
gramscianas podem ajudá-lo a compreender a ascensão estonteante do dono de
redes televisivas que se tornou chefe de governo (realidade muito verossímil
para os brasileiros). Ressaltando que, na época em que Gramsci escreveu não
havia televisão, Liguori retoma a famosa nota sobre “Hegel e o
associacionismo”: “O Estado tem e pede o consenso, mas também ‘educa’ este
consenso através das associações políticas e sindicais, que, porém, são
organismos privados”. Tendo em vista a expansão exponencial dos processos de
formação das consciências verificada nas últimas décadas, Liguori chega a
indicar a modificação do panorama antropológico italiano, com a criação do novo
“homem berlusconiano”, modificação esta tornada possível justamente a partir do
Estado (entendido em chave ampla), que, com suas televisões tidas por privadas,
estaria em posição de produzir um novo “senso comum”.
É curioso ver que o processo detectado por Liguori com a
ajuda de Gramsci talvez já tivesse sido esboçado por Walter Benjamin, de outra
forma, na década de trinta. Preocupado com os efeitos das inovações técnicas
sobre o estatuto estético e político da obra de arte, Benjamin escreve que:
“Essa nova técnica esvazia os parlamentos, assim como esvazia os teatros. O
rádio e o cinema não modificam apenas a função do ator profissional, mas - de
maneira semelhante - a de qualquer um, como o caso do governante, que se
apresente diante do microfone e da câmara”. Com recurso a esta passagem de
Benjamin, fica mais fácil compreender como a ascensão de Berlusconi, segundo
Liguori, fez-se acompanhar de um discurso hostil à política institucional.
Percorrendo os artigos deste múltiplo Ler Gramsci,
entender a realidade, teremos ainda acesso a uns tantos outros casos,
interpretações e expropriações. A “luta por Gramsci” mostra, nos seus diversos rounds,
o gigantismo de um legado duramente composto de cinzas e margens, na
precariedade absoluta com que a história do breve século vinte (mais breve
ainda para Gramsci) acalentou seus derrotados.
Um livro como este torna-se logo fundamental até como
registro de uma qualidade do pensamento de Gramsci que podemos associar àquela
virtude literária chamada por Italo Calvino, nas suas Seis propostas para
o próximo milênio, de “multiplicidade”: “De qualquer ponto que parta, seu
discurso se alarga de modo a compreender horizontes sempre mais vastos, e se
pudesse desenvolver-se em todas as direções acabaria por abraçar o universo
inteiro”.
Ricardo
Rizzo é autor de Cavalo marinho e outros poemas. São Paulo/Juiz de
Fora, Nankin Ed./Funalfa, 2002.
![]() |
http://www.artnet.com.br/gramsci/arquiv299.htm |